A sete
meses da data reservada para o carnaval, a incerteza ainda dá o tom no mundo do
samba.
Foto Gabiel Monteiro |
Por conta da pandemia de Covid-19, grandes escolas do Rio, cujos representantes vão se reunir hoje na Liga Independente das Escolas de Samba do Rio (Liesa), já adiantaram ontem que não desfilarão em 2021, a menos que seja desenvolvida uma vacina. Mangueira, Imperatriz Leopoldinense, Vila Isabel, Beija-Flor e São Clemente vão votar juntas pelo adiamento da festa por tempo indeterminado.
A possibilidade de transferência da data de início da
folia de 14 de fevereiro para meados do ano que vem já não parece uma opção
segura aos olhos de dirigentes.
As
agremiações lembram que dependem do trabalho de centenas de pessoas fechadas em
barracões para confeccionar fantasias e carros alegóricos. Uma das hipóteses
estudada seria transferir os desfiles para os feriados da Semana Santa, em
abril, ou de Corpus Christi, em junho.
A mudança
no calendário está sendo capitaneada pelo prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM),
que defende uma solução conjunta para todos estados do país.
“Sem vacina, é inviável realizar o carnaval em qualquer data, seja em fevereiro
ou junho. Hoje, as decisões judiciais têm muita força. Há o risco de fazermos
investimentos altos e, lá na frente, o contágio voltar a subir e a Justiça
determinar a suspensão. O carnaval é um evento de aglomerações, da produção à
realização na Sapucaí. Como seria? Componentes a dois metros de distância?
Cantando com máscaras no rosto? —
questiona o presidente da Vila Isabel, Fernando Fernandes.
Para o presidente da Mangueira, Elias Riche, o momento é
de concentrar esforços na luta contra o vírus. A Verde e rosa defende o
adiamento do carnaval para 2022.
“Como
ficaria a consciência de um dirigente caso acontecesse a morte de, por exemplo,
50 componentes que tenham desfilado na sua escola? reflete.
Os barracões das agremiações seguem parados. Apenas o
planejamento dos desfiles — desenhos de fantasias e alegorias, projetos
gráficos e construção das sinopses — está em andamento.
Os
diretores de carnaval da Imperatriz Leopoldinense, Marquinhos Fernandes, e da
Beija-Flor de Nilópolis, Dudu Azevedo, também apontam a vacina como requisito
para a realização do carnaval. Renatinho Gomes, presidente da São Clemente, faz
coro:
“É
simples: se chegar a vacina, teremos samba. Como vamos lidar com a multidão sem
imunização coletiva? O adiamento para 2022 será inevitável, porque não teremos
tempo hábil para arrumar a casa”.
A proposta de estabelecer um calendário nacional comum
para o carnaval, feita por ACM Neto, esbarra nas diferenças de estágio da
pandemia nas cidades, alerta o infectologista e professor da Universidade
Iguaçu (Unig), Roberto Falci Garcia.
“Cada
cidade tem o seu tempo na pandemia. No Rio, hoje, por exemplo, há uma tendência
de queda no número de casos, enquanto outras cidades ainda não chegaram ao pico
da doença. Essa mesma discrepância pode acontecer no ano que vem, numa possível
segunda onda de contaminação do novo coronavírus, caso não tenhamos uma vacina
eficaz”.
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A Prefeitura do Rio disse, em nota, que a sugestão de ACM
Neto será analisada tão logo chegue. Já a Prefeitura de Olinda destaca que não
há uma decisão sobre o carnaval 2021, “pois ainda faltam sete meses para a
data”.
A Riotur estuda alternativas e suspendeu, a pedido da
Liesa, a divulgação dos preços dos ingressos na Sapucaí para o público
estrangeiro. Também foi suspensa a liberação do caderno de encargos para as
empresas interessadas em disponibilizar a infraestrutura do carnaval de rua, evento
que reúne milhões de pessoas e exige, segundo a Riotur, um planejamento
complexo e cuidados especiais.
“O carnaval precisa de uma análise incluindo o número de
casos, a evolução no tratamento da doença, a prevenção e até uma vacina, para
garantir a viabilidade”, diz a nota.
Segundo Rita Fernandes, presidente da associação de blocos
do Rio Sebastiana, a festa de rua também tem futuro incerto:
“Sem vacina, é
complicado, pela natureza do carnaval, que é pura aglomeração. A imunização
coletiva é a primeira condição. Além disso, temos algumas outras variáveis:
vivemos um ano de eleição, com possível troca de comando na prefeitura, não
sabemos como estará o mercado e a oferta de patrocínios para os cortejos, e
também não sabemos qual será a resposta do público sobre a realização do
carnaval. Hoje, não temos condições de dizer como e quando será o próximo
carnaval”.
Oito escolas do Grupo Especial já têm enredo
Das 12 escolas do Grupo Especial, oito já divulgaram os
enredos. A Viradouro, atual campeã, vai contar o carnaval carioca de 1919,
conhecido como o maior do século passado, quando a população foi às ruas para
comemorar o fim da gripe espanhola. Já a Paraíso do Tuiuti levará uma mensagem
de proteção aos animais com o enredo “Soltando os bichos”, na volta do
carnavalesco Paulo Barros à escola após 18 anos.
Na Mocidade e na Grande Rio, dois orixás serão temas
centrais: Oxossi na escola de Padre Miguel, com “Batuque ao caçador”, e Exu na
agremiação de Caxias, com “Fala, Majeté! Sete chaves de Exu”.
A Vila Isabel
fará homenagem a Martinho da Vila; a Portela contará a história dos baobás, as
gigantescas árvores originárias da África; e a Beija-Flor quer enaltecer as
glórias dos negros com “Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor”.
Já o Salgueiro, com “Resistência”, vai falar da luta dos negros para preservar
a cultura e a fé.
“Não
divulgamos a sinopse do enredo por não ter um horizonte concreto. Estamos
diante de um cenário de incerteza, trabalhando com várias projeções para o
próximo desfile, seja em fevereiro ou em datas futuras. A resposta para isso
será debatida com a Liesa e as autoridades públicas. Tudo isso vai passar” — diz o diretor de carnaval da Grande Rio, Thiago Monteiro.
São Clemente, Mangueira, Unidos da Tijuca e Imperatriz
Leopoldinense ainda não divulgaram os enredos a serem levados para a Sapucaí.
“A
carnavalesca Rosa Magalhães tem uma ideia já fundamentada, mas a diretoria
decidiu esperar — afirma Marquinhos Fernandes, da
Imperatriz.
Por: Redação Inova News
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