A viola emudeceu, a cultura nordestina chora a morte do Poeta Pedro Bandeira.
Pedro Bandeira faleceu nesta segunda-feira (24) em sua residência na cidade de Juazeiro do Norte, vencido pela doença de Parkinson que o acompanhava a mais de 20 anos.
(Pedro Bandeira de Caldas *01/05/1938 + 24/08/2020) |
Pedro Bandeira faleceu nesta segunda-feira (24) em sua residência na cidade de Juazeiro do Norte, vencido pela doença de Parkinson que o acompanhava a mais de 20 anos.
O Prefeito Arnon Bezerra, decretou luto oficial de três dias e hasteamento das bandeiras a meio mastro pelo falecimento do poeta, cordelista, cantador de viola, advogado, teólogo e filósofo, Pedro Bandeira Pereira de Caldas, aos 82 anos.
Dentre tantas homenagens feitas ao “Príncipe
dos Poetas Nordestinos”, citamos a bela crônica escrita por seu grande amigo também
escritor, professor e Dr. em Bromatologia, Renato Casimiro:
Dr. Renato Casimiro |
PEDRO, TU ÉS PEDRA... (*01.05.1938 /
+ 24.08.2020)
Por Renato Casimiro
Pelo telefone, recebi mais uma
daquelas tristes notícias destes últimos tempos: - “Acaba de falecer Pedro
Bandeira (Pereira de Caldas)”. Ali mesmo fiquei parado por uns minutos e na
minha cabeça, um filmezinho me remetia ao ano de 1970.
Por algum motivo, naquele dia, se bem
me lembro, visitava o Juazeiro o governador Plácido Castelo. E fomos, muitos,
tributar-lhe uma boa recepção na velha sede do Treze, do caminho do aeroporto.
Afinal, ali estava um dos grandes beneméritos de nossa cidade. A primeira
pessoa que ali abracei, logo à entrada do recinto, foi Pedro Bandeira.
Conhecíamo-nos há pouco tempo, agora
mais vistoso, depois que fizera bonito, levando Juazeiro do Norte, seu
artesanato, sua cultura, para a grande exposição do Museu de Arte Moderna, no
Rio de Janeiro – O Nordeste da Bússola. E já sabíamos, desde 1961, quando aqui
chegou, deixando para trás o seu São José de Piranhas, que não viera para compor
timidamente a paisagem humana desta cidade.
Era já muito exuberante, participe
avexado em instituições como a Associação Juazeirense de Imprensa, a Sociedade
Padre Cícero, a Ordem dos Músicos, o Instituto Caririense de Cultura, a
Associação dos Violeiros, Poetas Populares e Folcloristas do Cariri, a Câmara
Júnior, a Associação dos Jornalistas Interioranos, vereador, radialista...
Agora, ali, estava devidamente “paramentado” com sua viola, à espera do
visitante.
Numa mesa ao lado, um pacote – e
soube depois, com os originais de seu primeiro livro – O Sertão e a Viola.
Durante a homenagem, cantoria, e um pedido: a impressão pelo governo daquele
primeiro livro. Dr. Plácido, muito gentil, imediatamente encaminhou o pedido
para as tratativas do gabinete, por um auxiliar a seu lado.
Quanto demorou, não sei, mas aquela
1ª edição só saiu com data de 1972, e ele m´a presenteou com dedicatória. Anos
depois o Pedro me diria da demora, mas foi como combinado. Em suas páginas,
tantas vezes percorridas, relevo o extraordinário de um poema antológico:
Quanto é grande o poder da natureza! Por esta peça, ouvi-o extasiado: um
martelo agalopado, frenético, que se encerrava numa apoteose da última estrofe:
“Admiro demais o ser humano
que se gera num ventre feminino,
envolvido nas dobras do destino,
calibrado nas leis do Soberano...
Quando faltam três meses para um ano,
A mãe “pega” a sentir uma moleza,
Entre gritos, lamurias e esperteza,
vem ao mundo e aos poucos vai
crescendo
e quando aprende a falar já é dizendo:
- Quanto é grande o poder da
Natureza!”.
Quanto é grande o poder da natureza,
meu caro Pedro, por esse enorme privilégio desta nossa convivência de quase
sessenta anos entre nós, para nos despedirmos hoje, tão tristes, nesse
silêncio, porque o canto do poeta se calou.
Repeti muitas vezes ao revê-lo, de
tão prazerosos momentos, especialmente no Instituto Cultural do Vale
Caririense, aos nossos sentimentos melancólicos, quando sinais dramáticos
vieram para nos dizer da fragilidade de sua saúde. Mas, insistíamos, na
saudação bem humorada: - Pedro, tu és pedra...
Como a se continuar dizendo que em
nós vai persistir esta vontade ferrenha de que sobre esta pedra haveremos de
continuar construindo, ainda mais determinados o nosso futuro de sociedade, ao
som de uma viola, tão afinada que este seu legado nos entrega como herança.
Segue em paz, Pedro, em busca desta
outra eternidade, porque a que fica conosco, qual profética estrofe do poeta,
haveremos de cantar em teu louvor, o derradeiro verso que você nos deixou:
“Todo o Nordeste sentiu,
Todo o cantador gemeu,
A poesia pendeu,
O verso diminuiu,
Da casa velha saiu,
A pessoa derradeira,
Sofreu a família inteira,
Filho, filha, genro e nora,
O sertão em peso chora,
Com a morte de Bandeira.”
Por: Inova News/Renato Casimiro
1 Comentários
Amigo Pedro, sou eternamente agradecido a Deus por ter convivido com você na Academia. Esperamos muoto na ressurreicao dis mortos. Saudades !
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