Numa época em que a solidariedade e a empatia têm sido cada vez mais exigidas, Dona Hilda Cândida tem orgulho de pensar no próximo.
Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo |
Aos
108 anos, a idosa seria a primeira pessoa a ser vacinada em Rio das Flores,
cidadezinha do Sul Fluminense. Mas abriu mão da dose a que tinha direito.
Segundo ela, a generosidade é um dos valores mais importantes do ser humano.
— Eu
já vivi tanta coisa nessa vida, com quase 109 anos, que prefiro dar a vacina
para alguém mais novo, que ainda pode viver mais do que eu posso. Estou quase
partindo, não quero essa vacina — afirma a idosa, que faz aniversário em 2 de
março.
Com dores crônicas nas pernas — fruto da idade
avançada —, Dona Hilda passa boa parte do dia sentada no banco da varanda da
casa onde mora. A lucidez ainda está presente. Durante a entrevista, fecha os
olhos a cada vez que busca as lembranças de uma vida "bem
aproveitada", como ela mesma define. Parece tentar trazê-las à tona, mesmo
as mais antigas, de quando era bebê em Santo Antônio de Olaria (MG).
— Eu
tive pneumonia ainda bebê e não pude nem mamar no peito da minha mãe. Acharam
que eu morreria e correram com o batizado para eu pelo menos ir sob as bençãos
de Deus. Aí minha madrinha fez uma papinha de angu morno para colocar sobre as
minhas costas, acreditando na minha melhora. E aquilo deu certo — diz.
Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo |
O
sabor dos remédios não é seu favorito, mas mesmo assim ela não deixa de tomar
as vitaminas receitadas pelos médicos e enfermeiros que a visitam
periodicamente em casa. O que agrada o paladar de Dona Hilda é algo mais
saboroso e geladinho.
— Eu
gosto é de sorvete, de picolé, ainda mais nesse calor. Leite também, é tudo de
bom. Eu gosto é das coisas boas, por isso nunca fumei e nunca bebi — diz, antes
de uma longa gargalhada. — Eu adoro brincar, rir, a vida é boa assim. Quando
fiquei dias internada no hospital, as enfermeiras nem queriam que eu fosse
embora. Diziam que eu era a alegria por lá — conta, aos risos.
O
bom humor é marca registrada. Na hora das fotos, questiona a fotógrafa sobre o
tempo utilizado para as imagens. "E essa foto, sai ou não? Parece que está
presa aí dentro (da câmera) e não quer sair por nada no mundo" e solta
outra gargalhada.
Hoje, a idosa mora sozinha no distrito de Manuel
Duarte e conta com o apoio de um neto que reside em outra casa no mesmo
terreno. Segundo ela, a família mora longe. Dos sete filhos, três já morreram.
Os netos ela não soma mais, perdeu as contas. Tem tararanetos que ela não
conhece ainda.
Epidemiologista
do Instututo de Medicina Social da Uerj, Claudia de Souza Lopes destaca que a
vacinação dos idosos é fundamental para protegê-los
—
Quanto mais idosos não se vacinarem em um abrigo por exemplo, isso vai
aumentando o risco das pessoas pegarem. A vacina dá uma proteção individual,
mas ela dá uma proteção maior coletiva na medida em que o vírus não encontra o
hospedeiro sem proteção.
Por: Inova News/Extra
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