Padre Cícero tinha pela beata Maria de Araújo uma particular consideração, providenciou-lhe um enterro digno de uma pessoa ilustre.
Maria de Araújo - "A Sata do Joaseiro " |
Juazeiro do Norte relembra e festeja, nesta quarta-feira
(24/05), os 160 anos de nascimento da Beata Maria de Araújo. Protagonista do
milagre da ostea, episódio marcante da história de Juazeiro e da vida do Padre
Cícero.
Relembremos um pouco da história desta mulher, mestiça, pobre que,
segundo padre Azarias Sobreira que a conheceu, ela “não despertava a atenção a
não ser pela simplicidade de manias, boa educação doméstica, fácil inteligência
das coisas, apesar de analfabeta”.
DADOS PESSOAIS
Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo nasceu no dia 24 de maio de 1863, no povoado de Juazeiro. Era filha de Antônio da Silva Araújo e
Ana Josefa do Sacramento.
Conforme descrição do escritor Manoel Diniz ela “era mestiça,
cabelos quase crespos que usava cortados baixinho, estatura média, franzina,
cabeça pequena, um pouco arredondada, olhos quase negros e suaves na expressão,
lábios um pouco grossos, nariz pequeno, faces um pouco salientes, queixo
pequeno, pescoço bem proporcionado”.
Filha de família pobre teve infância sofrida, trabalhava e
rezava muito, era artesã. Fiava o algodão e fazia bonecas de panos para vender.
A mandado do Padre Cícero, ensinava este ofício a algumas meninas de sua idade.
Também chegou a prestar serviços numa olaria, contando tijolos.
Como perdeu os pais muito cedo, foi morar na casa de Padre
Cícero. Passou a vestir o hábito de beata em 1885, com 22 anos, após ter
participado de uma espécie de curso de beata, (na verdade, um retiro espiritual
de oito dias) ministrado pelos Padres Cícero Romão Batista e Vicente Sóter de
Alencar.
Padre Cícero tinha pela beata Maria de Araújo uma particular
consideração, razão por que, quando ela morreu, lhe dedicou uma atenção toda
especial. Mandou abrir-lhe uma sepultura na Capela do Socorro e
providenciou-lhe um enterro digno de uma pessoa ilustre.
A beata Maria de Araújo faleceu no dia 17 de janeiro de 1914,
quando estava em curso a chamada Sedição de Juazeiro.
No dia 22 de outubro de 1930 seu túmulo foi aberto
clandestinamente por ordem do Bispo de Crato. O túmulo, construído no interior
da Capela do Socorro, foi totalmente destruído e os restos mortais da beata
foram sepultados em local ignorado.
SAÚDE
O estado de saúde de Maria de Araújo foi motivo de muita
polêmica entre os historiadores. Em depoimento prestado aos padres que
realizaram o Primeiro Inquérito sobre o milagre, ela afirmou que sofria de
incômodos de estômago, mas só chegou a vomitar sangue uma única vez, por causa
de uma queda que sofreu durante um dos ataques nervosos que tinha desde
criança. Alguns biógrafos chegaram a dizer que ela era hemofílica, tuberculosa,
epiléptica, desequilibrada, mas disso não existe nenhum documento. Ao
contrário, o médico Marcos Madeira, que a examinou repetidas vezes, atestou
oficialmente em documento lavrado e que faz parte do Inquérito, que não descobriu
na Beata “a menor ferida, úlcera ou ferimento de natureza alguma na língua,
gengivas, laringe e, enfim, em toda a cavidade bucal”.
O MILAGRE
Certamente o fato mais importante e polêmico da vida de Maria
de Araújo é o chamado milagre da hóstia. Este fato, que trouxe tantos
transtornos à beata e também ao Padre Cícero, ocorreu pela primeira vez no dia
1º de março de 1889. E consistiu basicamente no seguinte: Ao receber a hóstia,
numa comunhão oficiada pelo Padre Cícero, a beata Maria de Araújo foi incapaz
de degluti-la, pois a sagrada partícula transformou-se em sangue vivo, conforme
foi atestado depois pelos médicos convidados pelo Padre Cícero para examinar a
beata e presenciar o fenômeno, que se repetiu dezenas de vezes durante cerca de
dois anos.
Mas o fenômeno não era só isso. Em outras ocasiões a hóstia
chegou também a se transformar numa porção carnosa em forma de coração. E no
corpo da beata eram abertas chagas que depois de algum tempo iam desaparecendo
misteriosamente, sem deixar nenhum vestígio. Ela também apresentava suores de
sangue e entrava em êxtase. E no depoimento prestado à Primeira Comissão de
Inquérito, designada pelo bispo Dom Joaquim José Vieira para investigar o
fenômeno, ela disse que quando entrava em transe visitava o inferno e o purgatório,
e falava com Jesus Cristo de quem ouvia e transmitia ensinamentos em Latim.
Isto tudo deixou os Padres Clicério da Costa Lobo e Francisco Ferreira Ântero,
membros da Primeira Comissão de Inquérito, maravilhados.
Até agora foram levantadas quatro hipóteses para tentar
explicar o milagre de Juazeiro. A primeira, defendida elo Padre Cícero e outros
colegas de batina e principalmente pelo Professor José Marrocos, atribui ao
fato natureza divina, sendo, portanto, milagre.
A segunda, defendida oficialmente pela Igreja, diz que tudo
não passou de “prodígios vãos e supersticiosos e implicam gravíssima e
detestável irreverência e ímpio abuso à Santíssima Eucaristia”. A terceira,
criada pelo Padre Antônio Gomes de Araújo, historiador caririense, classifica o
fato na categoria de embuste, resultado de uma química feita à base de solução
de fenolftaleína mais amido, idealizada pelo Professor José Marrocos e a
conivência da Beata Maria de Araújo. E a quarta, mais recente, defendida pela
parapsicóloga Maria do Carmo Pagan Forti, diz que “as crucificações e os
estigmas miraculosos verificados em Maria de Araújo são resultados, certamente,
da imaginação emotiva dela, da influência de seu psiquismo sobre o organismo”,
e que a presença do sangue pode ser atribuída a um “caso de aporte”.
Neste novo enfoque, o sangue era mesmo real, sadio, mas da
Beata, descartando-se, então, a hipótese do embuste.
Na verdade, hipótese semelhante já havia sido levantada à
época da ocorrência do chamado milagre, pelo Dr. Júlio César da Fonseca Filho,
que em carta endereçada ao Bispo Dom Joaquim José Vieira atestou que o fenômeno
que se passava na beata não se tratava de impostura nem de simulação, mas de
histerismo.
A BEATA NA ATUALIDADE
De uns tempos para cá Maria de Araújo tem despertado a atenção
de historiadores e pesquisadores. Sua vida já foi tema de vários trabalhos
acadêmicos. Ultimamente ela não tem sido mais chamada de embusteira. Na visão
da parapsicóloga Maria do Carmo Pagan Forti “ela não foi uma embusteira e não
se pode reduzir a sua figura aos fenômenos acontecidos com ela, chamando-a de
alienada, de alguém fora da realidade, de um símbolo de atraso cultural e
ignorância religiosa. Ela foi mística no sentido nobre da palavra, como também
foram São Francisco de Assis, Tereza D´Avila, João da Cruz, os grandes místicos
europeus”."
Por: Inova News
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