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No congresso: ânsia para manter a farra das emendas parlamentares

 

Imagem ilustrativa

Bem meus amigos(a)!

A cúpula do poder em Brasília encontra-se imersa em uma acirrada disputa pelo controle de uma parte significativa do Orçamento da União, marcando mais um capítulo de um embate que já se estende por cerca de cinco anos.

O Supremo Tribunal Federal (STF) tem expressado crescente insatisfação com as justificativas apresentadas pelo Congresso Nacional, pelo Tribunal de Contas da União, pela Advocacia-Geral da União, pela Controladoria-Geral da União e pela Procuradoria-Geral da República no que diz respeito aos mecanismos de transparência para as transferências relacionadas às emendas parlamentares.

Durante uma reunião de conciliação, o ministro Flávio Dino expressou sua frustração: “Eu não consegui entender, imagine o cidadão, que é dono do dinheiro”, disse ele, em referência ao caso em que a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) busca a suspensão das chamadas “emendas Pix”.

Em 2019, os parlamentares descobriram uma forma de manipular um tipo específico de emenda, conhecida como RP-9, ou “emendas de relator”. Essas emendas foram ampliadas de tal forma que passaram a representar mais do que o dobro das emendas individuais e de bancada, desrespeitando a isonomia entre parlamentares e facilitando todo tipo de negociação e favorecimento. No final de 2022, o STF declarou a inconstitucionalidade das RP-9, mas não antes de tentar, sem sucesso, que o Legislativo implementasse medidas de transparência para o que ficou conhecido como “orçamento secreto”. Contudo, o Congresso, já acostumado ao poder de direcionar bilhões de reais, não estava disposto a desistir facilmente.

As “emendas Pix” surgiram como uma alternativa que desafia os princípios constitucionais que regem a administração pública, conforme previsto no artigo 37 da Constituição. Este tipo de emenda individual, denominado “emenda individual de transferência especial”, elimina a necessidade de detalhamento tradicional exigido para emendas parlamentares, permitindo que os deputados ou senadores simplesmente indiquem a prefeitura ou o governo estadual que receberá os recursos, os quais podem ser utilizados de forma praticamente irrestrita. Essa simplificação extrema levou à alcunha de “emenda Pix”, e hoje, elas representam dois terços de todas as emendas que não são obrigatoriamente destinadas à saúde.

A ausência de destinação definida, transparência e prestação de contas é um grave desafio aos princípios constitucionais da administração pública. Em anos eleitorais, prefeitos que concorrem à reeleição veem seus orçamentos significativamente aumentados graças às “emendas Pix” de seus aliados no Congresso. Tal situação já vinha sendo criticada por alguns parlamentares preocupados com a correta aplicação dos recursos públicos, enquanto outros adotaram um discurso em defesa da transparência para evitar que as “emendas Pix” sofram o mesmo destino das emendas de relator. O presidente da Câmara, Arthur Lira, por exemplo, agora promete “fazer a emenda Pix com um objeto determinado”.

Mesmo que, por algum milagre, os parlamentares decidam realmente dar transparência às emendas Pix, o problema central permanece. O enorme poder que o Legislativo detém sobre uma parcela significativa do Orçamento da União é sem paralelo no Ocidente.

Em 2024, o Congresso determinou o destino de 20% dos recursos livres, aqueles que não têm destinação definida por normas constitucionais ou outras regras. Em comparação, esse percentual é de 2,4% nos Estados Unidos e menos de 1% em países como Portugal, Coreia do Sul e França. Isso gera uma distorção na democracia, pois o governo eleito pelo povo, independentemente de sua orientação política, fica praticamente sem recursos para implementar o plano que os eleitores endossaram.

As emendas parlamentares não precisam ser extintas, mas é urgente que sejam repensadas quanto ao seu tamanho e uso.

      Por: Natan Tavares/Inova News      

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