Aprofundamento das tensões evidencia dificuldades na articulação política e reacende debate sobre aparelhamento do Estado
Presidente Lula afasta Jucelino Filho do Ministério das Comunicações-Foto Reprodução
A mais recente crise ministerial no governo Lula (PT)
escancara não apenas as dificuldades de articulação no Congresso Nacional, mas
também revela o avanço do aparelhamento do Estado como moeda de troca para a
manutenção de uma base parlamentar frágil e instável. À medida que a tensão
entre o Palácio do Planalto e partidos aliados se intensifica, o equilíbrio
político do terceiro mandato petista parece cada vez mais delicado.
No centro da controvérsia está o União Brasil, partido que,
apesar de ocupar três ministérios estratégicos — Turismo, Comunicações e
Integração Nacional —, tem se mostrado pouco comprometido com a pauta do
governo. A sigla, que abriga alas de centro-direita e conservadoras, se tornou
símbolo das contradições que permeiam a base governista.
A insatisfação no núcleo petista cresce diante da percepção de
que a concessão de cargos não tem se revertido em apoio concreto no Congresso.
“Cede-se muito e recebe-se pouco”, confidenciou um aliado próximo ao
presidente. O próprio Lula já admitiu, em reuniões reservadas, que há
"limites para esse tipo de política", segundo fontes do Planalto.
A instabilidade se agravou após declarações do deputado
Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder da bancada do Partido Liberal na Câmara. Em
entrevista, Cavalcante destacou o papel do União Brasil nas articulações pela
anistia dos envolvidos nos supostos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 —
uma pauta considerada explosiva e temida pelo governo. A menção expôs fissuras
na relação entre Executivo e Legislativo e acendeu o alerta vermelho entre
ministros palacianos.
A busca por estabilidade legislativa tem levado o governo a
ampliar negociações com partidos do centrão, o que, por sua vez, alimenta
críticas de que a máquina pública vem sendo utilizada como instrumento de
barganha política. A prática, embora comum em diversos governos, atinge agora
níveis que preocupam especialistas em governança e transparência.
“Essa estratégia pode garantir sobrevida a votações
pontuais, mas cobra um preço alto em credibilidade e eficiência administrativa”,
avalia a cientista política Helena Lessa, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ). Segundo ela, a dificuldade do governo em consolidar uma base
sólida evidencia que o modelo atual de coalizão está em xeque.
A crise ministerial em curso é mais um capítulo das
turbulências que marcam os primeiros anos do terceiro mandato de Lula, que se
vê pressionado a equilibrar interesses divergentes enquanto tenta manter a
governabilidade em meio a um Congresso fragmentado e cada vez mais exigente.
Por: Inova News/Natan Tavares
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